Preço do Discipulado

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Há algumas semanas, falamos sobre a composição do preço do discipulado, onde incluímos o primeiro item da lista: tempo escasso com amigos, e um número de amigos especiais que cresce exponencialmente, com os quais não conseguimos conviver na proporção que gostaríamos. Hoje, quero compartilhar o segundo item dessa composição: tempo para si mesmo.

Ao longo dessa caminhada, aprendi que sou o terceiro elemento da minha escala de prioridade: 1) Deus; 2) meu próximo; 3) eu. Isso tem se refletido no meu dia a dia. Existem poucas coisas que eu gosto de fazer sozinho: assistir a Chaves (ainda dou muitas risadas com eles), jogar futebol no vídeo game, ouvir música “a Capella” de raiz e navegar na web (nem sei se ainda usam esse termo). Fato é que cada uma dessas coisas cumpre um papel importante na minha vida.

   Chaves me lembra a infância…

O Chaves me lembra a infância, a alegria da época de não ter responsabilidade com praticamente nada, junto da possibilidade de rir muito sem precisar refletir por um segundo sequer. O futebol no vídeo game é a minha válvula de escape para o estresse. Sempre que estou estressado, coloco no nível mais fácil do jogo, meto uma goleada no time adversário e fico felizaço! Meu estresse passa na hora. Nossa, que infantil! Hahaha. Ouvir música “a Capella” de raiz me lembra o “Artpella”, grupo musical que cantei e administrei por quase duas décadas. Lembro dos grandes amigos que cantavam comigo, dos milagres que Deus realizou na época, das viagens, das pessoas que demonstravam muito carinho pela banda. Me lembro, também, das brigas, dos desafios vencidos, perdidos, do valor da perseverança e de acreditar em um sonho. Sempre que escuto esse estilo de música, lembro de tudo isso e choro muito. Muito mesmo! Já navegar na web inclui desde ler a respeito de coisas espirituais até simplesmente perder algum tempo vendo as atualizações de amigos nas redes sociais. Confesso que ainda não descobri o valor disso, mas gosto muito.

Ao me envolver com um certo grau de profundidade no Reino de Deus, tenho percebido o quanto escasso é o tempo para fazer essas coisas. Ocupo boa parte do tempo na administração dos meus negócios, no planejamento e execução dos projetos sobre espiritualidade que estou envolvido, com a esposa e a filha, e, principalmente, com discípulos “recém-nascidos” (aqueles que acabaram de chegar no Reino, sabe?). São tantas pessoas para atender pessoalmente, ao telefone, pelo WhatsApp ou qualquer outra rede social, que raramente sobra tempo para cuidar de mim mesmo. Louvo a Deus pela minha esposa Suelen e minha filha Gaby que, além de serem muito compreensivas com essa inevitável  ausência, ainda cuidam bastante de mim.

   Às vezes, aperto o botão do dane-se” e…

Um fato curioso a respeito é que não sinto muita falta dessas coisas que gosto tanto de fazer sozinho. Mantenho minha cabeça tão ocupada com os problemas e as crises de outras pessoas que nem paro pra pensar na falta que isso faz. Às vezes, aperto o botão do dane-se” e, simplesmente, vou lá e faço algumas dessas ações solitárias. Normalmente quando estou com alguma carga de sentimento pesada, com alguma decisão difícil para tomar ou até mesmo quando estou com muita raiva de alguma coisa!

Olho para a história de Jesus com a mulher samaritana, e me identifico completamente com o momento em que Seus discípulos O questionam se, depois de conversar com a mulher, Ele não comeria. A resposta dEle é incrível. Ele diz que Sua comida era fazer a vontade de Seu Pai. Eu sinto isso muitas vezes na caminhada de fazer discípulos. Diferentemente de quando estou trabalhando ou fazendo algo pessoal, não sinto absolutamente nenhum cansaço físico depois de horas conversando com alguém em um “1×1” (conversa intencional, com o objetivo de compartilhar revelação), ou, até mesmo, depois de algum de encontro para qualquer projeto espiritual que eu esteja envolvido. Se eu não tiver me alimentado, só sinto fome ao chegar em casa. E olha que, como todo bom gordinho, eu sempre estou com fome!

   A motivação de salvar as pessoas ao invés de buscar a própria salvação…

Parece que há um poder sobrenatural que rege meu envolvimento nas coisas do Reino de Deus. Me lembro quando João Batista, certa vez, disse a alguém que ele estava batizando com água, mas que viria alguém maior que ele, que os batizaria com Espírito e com fogo. Hoje, compreendo o que ele disse: seríamos batizados com o Espírito do Cristo, ou seja, com uma nova motivação para trabalhar nas coisas espirituais; a motivação de salvar as pessoas em vez de buscar a própria salvação (essa, já consumada na cruz para os que creem). E o batismo com fogo que, no momento, creio ser o poder para viver de acordo com essa motivação anterior. Percebo essa força atuando no meu corpo e na minha mente, cruzando meus limites físicos e psíquicos, na maioria das vezes sem, até o momento, causar nenhum dano.

Se eu fizesse uma análise um pouco mais precisa dos últimos doze meses de vida é provável que eu não me encontraria fazendo as coisas citadas como preferidas por, sequer, 1% do tempo! Diferentemente do primeiro item da composição do preço do discipulado – tempo com os amigos, não me sinto triste por não sobrar tempo suficiente para essas coisas. Me sinto tão bem fazendo aquilo que fui vocacionado a fazer que isso não me faz falta.

   Fato é que eu conheço minha capacidade de viciar…

Fato é que eu conheço minha capacidade de viciar nas atividades agradáveis que gosto de fazer sozinho. Então, criei algumas travas de segurança para que, nessas escapadas entre um “1×1” e outro, eu possa usufruir disso dentro de um limite saudável de tempo. A primeira trava de segurança está em me perguntar quantas pessoas eu deixei de atender naquele momento que, por exemplo, passei assistindo ao Chaves. A segunda é me perguntar se estou sendo útil na missão de reconciliação do Abba. Por último, reflito em quantos homens bons deram suas vidas, perderam esposas e filhos para que, hoje, eu pudesse ter acesso a esse evangelho que me tirou da escuridão para a Maravilhosa Luz. Isso dói sempre, mas não o suficiente para me deixar nervoso ou irritado ao não ter mais tempo pra mim.

Parece caro sacrificar o tempo naquilo que gostamos de fazer sozinhos para cuidar de gente, né? Fico pensando no preço que meu Senhor, Salvador e irmão mais velho, Ele, Jesus, o Cristo, pagou ao deixar seu ambiente de glória e majestade, ao ficar sem a presença constante do Pai, ao ficar quarenta dias e quarenta noites sem comer no deserto, ao assumir a possibilidade da morte como ser humano, ao enfrentar a agonia de morrer a pior das mortes de sua época, para que, hoje, eu não precisasse mais ter medo de morrer. Existe comparação? É possível comparar o que Ele fez por mim com o que eu posso fazer por Ele? Graças a Deus isso não é necessário. Ainda bem que a Graça de Deus nos basta, e mesmo sabendo que não há comparação, mesmo sabendo que posso falhar na tentativa de não me delongar naquilo que não é pão, mesmo sabendo que posso atrapalhar por algum tempo os planos de Deus para a vida das pessoas que me rodeiam, eu descanso na certeza de que a missão é dEle e as coisas vão acabar bem, pois Ele prometeu! E é essa convicção que me permite passar por aquilo que eu não conheço ou que sou incapaz de compreender.

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Texto de Rodrigo Maciel  – Palestrante e um dos idealizadores do Portal Metanoia. Administrador de Empresas de formação, empreendedor de profissão e pastor leigo por vocação, é também plantador de igrejas missionais na cidade de São Paulo.

Original no link abaixo:

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